sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ORDENAÇÃO DE JOÃO CALVINO


(Pergunta do Rev. Sandro ao Rev. Galasso)

Recebi, por e-mail, de 23/3/2008, pergunta sobre a palavra “cônego” aplicada a Calvino em artigo publicado em O Estandarte de março de 2008. Ela estava assim formulada: “Sempre aprendi que João Calvino nunca havia sido ordenado. No livro 'Nossas crenças e de nossos pais', de David S. Schaff, 2ª edição, na página 354 (Imprensa Metodista – 1964), o autor chega a declarar: 'Calvino provavelmente nunca foi ordenado por um ritual humano'. E este tem sido o ensinamento que tenho recebido até então. No entanto, em O Estandarte de março de 2008, em seu excelente artigo na página 5, está escrito que Calvino, 'como cônego da igreja, dirige um ofício religioso...”. Venho pedir informação sobre qual a fonte que nos aponta que Calvino foi ordenado padre (cônego) católico” (Rev. Sandro).
Com referência à sua observação sobre meu texto em O Estandarte de março, mencionando Calvino como "cônego", é correta a afirmação de Schaff de que Calvino provavelmente nunca foi ordenado. Não existem documentos que registrem sua ordenação.

No entanto, é preciso observar no caso de Calvino:

a) que ele foi nomeado pela igreja como responsável, primeiro, para a capela de La Gésine em Noyon, e, depois, para Pont l´Évêque, tendo um religioso como auxiliar e com quem dividia os proventos recebidos;

b) que na época era comum abades, bispos e sacerdotes manterem suas posições sem que houvessem recebido uma ordenação sacerdotal; que na região de Bourges, onde viveu como estudante de Leis, sua aparência era de um religioso identificado com a igreja, tendo pregado diversas vezes sem lembrar de mostrar qualquer sinal que o identificasse com um “protestante”; que em Poitiers, nessa mesma época, ele teria ministrado a ceia para alguns camponeses;

d) que também pregou na igreja de seu amigo Luis Du Tillet em 1534, em Angoulême, onde residiu por algum tempo;

e) que, neste mesmo ano, quando esteve em Noyon, por ocasião da morte de seu pai, celebrou a missa.

De tudo isso, fica claro que para exercer tais funções religiosas, requeria-se algo mais do que ser um simples noviço, recebido pela tonsura aos 12 anos.
Essas ponderações têm levado alguns biógrafos de Calvino a usar para ele, nesse período de sua vida, de maneira muito natural, qualificações como clérigo, sacerdote (A. Ganoczy) ou “cônego”.

Rev. Eduardo Galasso Faria
Professor do Seminário Teológico de São Paulo


Fonte: O Estandarte – Junho de 2008, p. 5.